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DETECTANDO CORRETAMENTE O INCORRETO

Vou comentar um caso recente ocorrido no prédio onde minha mãe reside.

Não deve ter sido uma experiência diferente de muitos outros moradores de edifícios residenciais.

Ouvimos o alarme de incêndio soar em toda edificação. Avisei minha mãe para sairmos utilizando a escada pressurizada, a qual, diga-se de passagem, não segue os padrões da ABNT NBR 14880, que trata do tema .

Descemos a escadaria e eu tentei verificar qual seria o andar incendiado. Não consegui identificar qual foi o apartamento que estava em chamas ou, possivelmente, quem deveria ter esquecido “panela no fogo”. Nome dado ao tipo mais comum de ocorrência que atendi dezenas de vezes em minha vida profissional. Tal tipo de ocorrência é uma das quais o Corpo de Bombeiros de São Paulo, ainda, perde tempo atendendo.

Na chegada da equipe de bombeiros da região fiz questão de acompanhá-los já que o sistema de detecção endereçável exigido, por conta da escada pressurizada, deveria ter identificado o andar que gerou a fumaça.

Nada foi localizado de anormal em qualquer andar, apartamento ou em qualquer parte da edificação. Posteriormente, uma teoria descortinou-se. Possivelmente um dos jovens moradores estava utilizando-se de um aparelho muito conhecido como “narguilé” ou “hookah” em inglês. Um aparelho que possui um bulbo e tubos para que o consumidor aspire a fumaça gerada da queima dos produtos lá inseridos, que podem ser: tabaco, maconha ou aromatizantes como chocolate, alcaçuz ou outros produtos.

As pessoas têm se utilizado desse aparelho por séculos na antiga Pérsia e Índia e, atualmente, estão fumando em grupo, em casa, em cafés e universidades.

Uma das mais novas versões são os “eletric heat hookahs”, os denominados “cigarros eletrônicos” ou mais recentes “vape pens”. Esse último utiliza-se de bateria de íons de lítios, conhecidas baterias por causa de vários incêndios anteriores.

Tais novas modalidades tecnológicas são entendidas pelos seus usuários como as mais seguras para a saúde. Entretanto, a Universidade de Cincinnati, apresentou recentes resultados de estudos voltados para a identificação dos componentes geradores da fumaça desses cigarros eletrônicos e seus danos às células dos pulmões. Os pesquisadores confirmaram que a fumaça gerada pelos “cigarros eletrônicos” matou 80% das amostras de células dos pulmões avaliados, 24 horas após sua exposição a tais gases inalados.

Este risco é mais significativo se comparado com a utilização do “narguilé” ou “hookah” quando utilizam produtos de alta toxina. Em testes, utilizando-se desses produtos, 25% das amostras de células do pulmão avaliadas morreram. Utilizando-se de produtos com baixa toxina, concluíram que 10% dessas células do pulmão morreram.

Os pesquisadores concluíram que a utilização de “cigarros eletrônicos” é potencialmente mais perigosa à saúde que os demais outros com a mesma finalidade.

Além de estar se tornando um problema de saúde mundial, principalmente para os jovens, trata-se de um problema de segurança contra incêndio e de sua gestão nas edificações, uma vez que a utilização desses produtos gera grande densidade de fumaça, a exemplo da suposta emergência que relatei, bem como coloca pessoas em riscos desnecessários. Na edificação onde mora minha mãe, vários são os idosos que tiveram que sair correndo escada abaixo, abandonando a edificação, colocando-se em risco desnecessário de queda ou pior, até a um ataque cardíaco.

A fumaça é uma das formas de ativação projetada para o sistema de detecção e alarme de incêndio.

Nas Universidades dos Estados Unidos, o problema está muito mais grave. Na Ohio University em Athens, Ohio, houve um aumento de 320%, em relação ao ano anterior, no número de ativação de alarmes de incêndio.

Outros efeitos do aumento dos rigores dos agentes escolares para controlar o uso desses cigarros eletrônicos e similares, está resultado na mudança de comportamento dos alunos. Uma mudança que nada contribui para a melhoria da segurança contra incêndio, uma vez que os alunos continuam fumando seus dispositivos (narguilé, cigarros eletrônicos ou “vape pens”) mas sem serem incomodados pelos alarmes, uma vez que estão tampando os detectores de fumaça, inutilizando-os.

Um artigo da “New York Times” afirma que, aparentemente, já ocorreu a primeira morte relacionada com a explosão de uma “vape pen” no estado da Florida.

Portanto, existem, em análise primária, duas questões importantes a serem discutidas e resolvidas pelas instituições de corpos de bombeiros:

1-levantamento estatístico dos fatos geradores desses acionamentos para o desenvolvimento de políticas específicas de reeducação da sociedade, e

2-com base no item 01 anterior, estudos para criação de procedimentos para recuperação dos custos relacionados com tais acionamentos falsos dos corpos de bombeiros por parte de condomínios e empresas (gastos de combustível, pneus, desgastes das viaturas empregadas, horas técnicas empregadas desnecessariamente, gastos e desgastes de equipamentos diversos, riscos de deslocamentos etc)

É conhecido que em vários países, tal acionamento do Corpo de Bombeiros gera multas pesadas.

Tal mudança de postura, por parte dos corpos de bombeiros, também poderá induzir na melhoria da gestão interna dessas edificações em seus sistemas de proteção contra incêndio, desde que tais sistemas sejam certificados.

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