Falácias/Soluções

FALÁCIAS 02 – Indústrias químicas e compartimentação padrão ISO 834

Atendendo, recentemente, um cliente o qual trabalha com produtos químicos e certamente com hidrocarboneto, pude verificar que ele estava adotando a solução de compartimentação de diversas áreas para não utilizar a solução de proteção contra incêndio de chuveiros automáticos. Solução esta aprovada em projeto perante o Corpo de Bombeiros local e que, certamente, será aprovada em vistoria.

Independente de discordar da solução adotada de compartimentação, por entender que a melhor solução seria a instalação de sistema de detecção de incêndio e chuveiros automáticos (combate por espuma), cabe ressaltar que a adotada (compartimentação de áreas), no meu ponto de vista está totalmente equivocada.

Uma questão imprescindível que todas as organizações e bombeiros desconhecem é o RISCO (citado no artigo anterior Falácias 01).

Reforço que neste tipo de risco é fundamental conhecer  a curva “tempo X temperatura” esperados deste incêndio.

Estou falando, por exemplo, da mais conhecida, a curva ISO 834. Curva padronizada “tempo X temperatura” do incêndio, utilizada como referência para testes laboratoriais para produtos de proteção contra incêndio (portas corta-fogo, paredes resistetntes ao fogo, dumpers corta-fogo etc).

Todas as edificações possuem material carga incêndio, curvas de crescimento (lento, médio e rápido), além de possuírem temperaturas estimadas máximas. Depende do seu risco.

Existem outras curvas “tempo X temperatura” padronizada é definida na ASTM E-119, EN 1363-1, UL 263 é AS/NZ 1530, sendo que todas estas reepresentam um incêndio em madeira que não alcança as temperaturas elevadas, esperadas em incêndios com hidrocarbonetos.

Incêndios com hidrocarboneto alcançam estas temperaturas quase que imediatamente, mantendo sua intensidade de temperatura das chamas de maneira constante (ao que chamamos heat release rate). Assim sendo, se materiais de proteção contra incêndio são testados para curvas que não representam o esperado em incêndios com hidrocarbonetos, as soluções adotadas sofrerão danos catastróficos. No caso da compartimentação aplicada ora em debate, o resultado será a falência da parede, criando-se grandes aberturas e o desmonte destas paredes, expondo mais um ambiente ao incêndio, aumentando os danos.

Para piorar, não existe, ainda, no mundo, testes padronizados em fornos para incêndios em hidrocarbonetos.

A UL 1709 “Standard for Rapid Rise Fire Tests of Protection Materials for Structural Steel” apresenta critérios de testes para perfis metálicos, principalmente para vigas metálicas.

Em resumo, as diversas soluções de proteção contra incêndio são testadas com base na “magnitude” esperada dos incêndios.

A utilização de soluções de proteção contra incêndio, não conhecendo a magnitude dos incêndios, está fadado ao fracasso.

Utilizar gesso acartonado, dupla camada, face dupla para toda e qualquer edificação ou risco mostra-se uma total falta de entendimento e de conhecimento das bases da segurança contra incêndio por parte dos Corpos de Bombeiros.

Tais riscos de edificações que manipulam hidrocarbonetos, cuja curva de crescimento do incêndio (tempo X temperatura), devem ser urgentemente reestudadas nas legislações nacionais.

Muitas das compartimentações atualmente já são confeccionadas por empresas a qual denomino de “gesseiros”. Não porque não sabem estruturar uma parede que utiliza gesso acartonado (a parede até fica de pé), mas porque não entendem NADA de proteção contra incêndio e dos conceitos atrelados a segurança contra incêndio.

Aparentemente estes profissionais e empresas de “gesseiros” não estão sozinhos. Estão sendo conduzidos por cegos com a legislação debaixo dos braços.

Aguardem o “Falácias 03”.

Grato pela leitura.

Cotta

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