Recentemente fui entrevistado por jornalista do SEESP –  Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, quando pude apresentar a realidade que especialistas já conhecem, mas que o Estado não quer reconhecer, ou seja: A sua total falta de capacidade para gerenciar este gigantesco universo que é a segurança contra incêndio.

Já escrevi diversas vezes que as legislações possuem diversos furos, vícios e desvios, bem como é administrada com “cegueira deliberada”.

Abordo tal aspecto, com um exemplo singular, que reflete a saga, ladeira abaixo, da falta de cuidado do Estado para com tal tema.

O que vou relatar é real e estou vivenciando em primeira pessoa.

Meu próprio condomínio havia obtido AVCB em 2016 (até então era o TERCEIRO AVCB). Por conta de minha denúncia ao Corpo de Bombeiros local, o AVCB foi cassado logo depois de ter sido obtido. Eu havia detectado dezenas de problemas técnicos e “não conformidades”, muitas das quais eram muito simples de serem identificadas. Ou seja, qualquer profissional, com um mínimo de treinamento, teria condições de identificar os erros.

Todas as ART e AVCB´s somente poderiam ter sido obtidos por pura fraude, ou seja, documentos falsos (laudos e ART´s). Não deixando de citar que até o projeto legal aprovado possuía vícios.

Não posso esquecer de comentar que confeccionei denúncia, contra as pessoas que assinaram tais documentos fraudulentos, perante o CREA/SP e, apesar de minhas insistentes cobranças, nunca recebi qualquer resposta.

Cinco anos depois, em 2021, descobri que o condomínio havia, novamente, obtido novo AVCB. Que maravilha ! Tudo resolvido então, depois de tantos anos. Só que não!

De pronto, realizei nova denúncia. Desta vez, perante a Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo e Comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Adotei tal postura por entender que qualquer cidadão que realiza denúncia deve possuir garantia de receber pronta resposta, principalmente se tal denúncia é comprovada.  Em 5 anos pessoas casam, tem filhos, compram casa, viajam, formam-se em universidades, especializam-se, aprendem nova língua e até morrem. Acho que fui bastante tolerante, por ter aguardado 5 anos, não é verdade? A falta de resposta somente demonstrou desprezo para com o cidadão Carlos Cotta Rodrigues. A atitude somente demonstra o desrespeito contra o basilar direito, que qualquer cidadão possui, a resposta formal (não vou nem abordar o fato de que sou Tenente Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e especialista no tema segurança contra incêndio). Diante disso, eu não poderia adotar outro procedimento a não ser o de denunciar para instância superior.

Qual não foi minha surpresa quando recebi o relatório da nova vistoria realizada (entregue pessoalmente por representante daquela Instituição) após a nova denúncia, onde constava somente algumas pequenas irregularidades, apesar das dezenas de fotos e diversas páginas com relatos detalhados dos problemas de descumprimento de normas da ABNT e do próprio Decreto Estadual local, que ainda permaneciam desde 2016.

Diante disso, solicitei reunião em videoconferência, indignado pela situação absurda, a qual me pareceu ser falta de conhecimento ou falta de pura leitura de minha nova denúncia.

Após a videoconferência, entendi que os procedimentos iriam evoluir e que tudo estava esclarecido. Doce engano em acreditar no Estado.

O que pude constatar, com grande espanto e, ainda, até hoje descrente, é que o Estado não está preocupado em seguir a própria Lei que ele escreve de maneira unilateral e deveria defender.

Como especialista em “Segurança Contra Incêndio” – conselheiro do Instituto de Engenharia, coordenador de diversas normas da ABNT, membro da NFPA, escritor, professor, estudioso da área por mais de 30 anos e responsável por muitos dos textos que hoje ancoram todas as legislações de segurança contra incêndio em todos os Corpos de Bombeiros do Brasil– não existe uma só palavra que pode ser dita para tal esdrúxulo panorama. O que penso enquanto escrevo não pode ser apresentado em palavras simples. Somente pode ser expresso através de onomatopeia. Deve-se voltar aos tempos do caçador-coletor para se ter uma ideia do que é a figura do Estado neste atual momento.

Em resumo, com tal atitude o Estado mostra, de maneira inequívoca, para a sociedade, que não liga para o cidadão! A legislação hoje é uma mera pantomima, jogo de cena e está, a cada dia, fadada ao fracasso total.

Cada vez mais a sociedade tomará consciência de que os contratos inteligentes deverão tomar o lugar do Estado para resolver tais deslocamentos temporais. Chegará um dia em que especialistas ditarão as regras para cada risco, através da simples análise de riscos e aplicação de CFD (Computational Fluid Dynamics), sem interferência do Estado, o qual não possui a mínima capacidade técnica e gerencial para tentar cumprir o que escreve.

Vamos tratar de contratos inteligentes e CFD em outros artigos. Aguardem!

Por isso é que veremos cada vez mais incêndios catastróficos, destruindo negócios, investimentos e, pior, matando pessoas. Mas, e o Estado? Que estado? Que estado!

De maneira muito honesta posso afirmar que atualmente vivemos o “Ciclo da Mentira” na segurança contra incêndio, em todo o território nacional.

Aproveito a oportunidade para divulgar que estamos preparando nosso canal no Youtube e no Odysee, onde um dos primeiros vídeos será a respeito do “Ciclo da Mentira da Segurança Contra Incêndio” no Brasil.

Veja neste link o artigo recente que ajudei a escrever. Aproveitem!