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Notre Dame, Votre Plomb, Mon Mal

Em pelo menos dois casos envolvendo duas crianças, exames de sangue resultaram em altas taxas de chumbo. Tais valores encontrados, segundo especialistas em saúde, são resultantes do incêndio na catedral de Notre-Dame, ocorrido em 15 de Abril de 2019.

Após o incêndio, no mês de Junho, autoridades recomendaram exames de sangue para as crianças com menos de 7 (sete) anos e para grávidas que moravam próximo da Catedral incendiada. As crianças são as mais vulneráveis a problemas de saúde relacionados com a exposição ao chumbo que podem causar danos no cérebro e no sistema nervoso. Ao todo, cerca de 175 (cento e setenta e cinco) crianças passaram por exames de sangue devido a preocupação com o potencial de contaminação relacionado ao chumbo.

Críticos acusam as autoridades por não agirem rapidamente para a proteção dos trabalhadores e moradores da circunvizinhança da Catedral, com informações e orientações consistentes de como lidar com a poluição por chumbo.

Alguns especialistas afirmam que o incêndio na Catedral derreteu cerca de 440 (quatrocentos e quarenta) toneladas de chumbo que faziam parte do telhado e de seu pináculo, os quais foram lançados para a atmosfera com o plume de fumaça amarela.

O trabalho de descontaminação foi reiniciado, mas entidades ambientalistas afirmam que o problema com a poluição do chumbo será preocupação por longo tempo na cidade, bem como o Rio Sena será o responsável por espalhar tal material tóxico a distâncias ainda maiores.

Este artigo aponta para dois problemas graves quando tratamos de prédios históricos:

O primeiro está relacionado ao grande risco de incêndio e sua propagação descontrolada neste tipo de edificação histórica, a qual se utiliza grandemente de elementos construtivos em madeira.

A segunda preocupação é com o fato de que se seus construtores não possuíam conhecimentos de todos os riscos dos materiais utilizados, os atuais profissionais, certamente, são obrigados a conhecê-los e desenvolverem, de imediato, procedimentos de informação para a população e sua mitigação.

De qualquer forma, as duas questões acima foram e continuarão a ser impactantes aos seres humanos e, como a reportagem demonstrou, continuam a afetar a população na circunvizinhança mesmo depois do incêndio.

Aqui no Brasil, incêndios já mostraram seus danos para o patrimônio histórico, os quais não podem ser mitigados por legislações, somente por minuciosa análise de riscos e soluções técnicas de qualidade e certificados, elaboradas por especialistas.

Mas, aparentemente, questões antigas, que já deveriam ter sido superadas e já deveriam fazer parte do acervo cultural de todos os envolvidos na preservação de patrimônios históricos, sequer foram resolvidas naquele país, tido como de primeiro mundo.

Torna-se claro, depois deste evento, a necessidade de capacitar profissionais e certificar pessoas para trabalharem com a complexa análise de riscos e gestão das soluções de engenharia de incêndio para proteger tais edificações históricas e seus conteúdos, seu necessário plano de gestão de inspeções e manutenções contínuas, além de rigoroso controle das restaurações, revitalizações ou reconstruções.

Outrossim, quando o incêndio ocorre, é o momento de se provar o real valor de um plano de emergência bem elaborado e treinado constantemente com as Corporações locais, minimizando os danos nesses patrimônios materiais e imateriais, bem como diminuindo as chances de riscos à saúde dos cidadãos.

Deixar o peso desses problemas para a “Nossa Senhora” já sabemos que não deu resultado na França. Aqui no Brasil, por outro lado, temos os nossos “jeitinhos”, ou seja, instituições deliberadamente cegas e profissionais desqualificados que fornecem produtos não certificados, que acabam por confundir as pessoas envolvidas na luta diária em defesa do patrimônio histórico e cultural nacional, deturpando e obscurecendo os caminhos já descortinados, há muito tempo, pelo Iluminismo. Notre-Dame trouxe mais uma nova preocupação:  às cinzas dos acervos pós incêndio, juntam-se, agora, os componentes tóxicos, como uma vingança pela não preservação. 

É o patrimônio matando seu criador duas vezes, ao desaparecer no incêndio e ao ressurgir, quase que imperceptível, como doença fatal.

Desta forma, especialistas internacionais apontam para o fato de que para a proteção contra incêndio de edificações históricas deve-se, imperiosamente, realizar análise de riscos e considerar as seguintes soluções:

-Sistema de combate por “water-mist”;

-Sistema de detecção de incêndio;

-Sistema de controle de fumaça;

-Combate com gases “limpos”;

-Controle dos materiais de acabamento e revestimento;

-Compartimentação de áreas (com portas corta-fogo e/ou painéis cortina corta-fogo);

-Passivação de estruturas e de materiais de acabamento e revestimento com tintas e vernizes especiais;

-Revisão de sistemas elétricos e sistemas de proteção contra descargas atmosféricas;

-Controle de produtos combustíveis ou inflamáveis em armários apropriados;

-Controle de trabalhos à quente;

-Controle de acesso e contra intrusão;

-Controle contra incêndios criminosos;

-Treinamento de funcionários e brigadistas;

-Sinalização e Iluminação de emergência;

-Informação e orientações claras aos visitantes;

-Controle e acompanhamento de pessoas com deficiência;

-Elaboração de Plano de Emergência.

 

 

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